sábado, 13 de janeiro de 2018

Como transformar um chèvre num cabreiro

Existem vários tipos de queijo de cabra. Entre nós o chamado «chèvre» é um queijo de pasta mole, de forma cilíndrica, envolvido numa película acinzentada que resulta da acção de bolores no exterior e é a este que me refiro.
Queijo da Quinta da Maçussa. Foto do site da Câmara dea Azambuja.
Foi Adolfo Henriques da Quinta da Maçussa quem primeiro o produziu em Portugal, há mais de 12 anos. Agora pode encontrar-se já em todos os supermercados feitos industrialmente. O prazo de consumo não é muito alargado e depois dessa data sucede-lhe o que sucede a todos os queijos: seca. Já me tinha acontecido antes, mas desta vez deixei-o secar mais tempo. Com surpresa, quando o fui comer soube-me a queijo cabreiro.
Esta afirmação aparenta nada ter de especial. Parece mesmo lógica, mas acontece que me soube ao queijo cabreiro da Beira Baixa que eu comia em miúda, também designado queijo picante, ou chulé devido ao cheiro intenso. 
Foto tirada da internet
O meu pai era um grande apreciador de queijo e não terminava uma refeição sem comer queijo. À mesa vinham sempre várias qualidades de queijo mas para este existia um ritual próprio. Como era muito intenso só se cortava um bocadinho e depois como dizia o meu pai «tinha que se acertar o pão com o queijo». Esta manobra transformava-se por vezes num jogo: um pouco mais de pão, um pouco mais de queijo. Nos últimos anos quando a ASAE começou a entrar nas queijarias os métodos de produção deste queijo mudaram. Vezes sem conta o meu pai explicava porque o queijo cabreiro já não era tão bom. Dantes era amadurecido sobre palha que era humedecida e o queijo ia na realidade apodrecendo. Ficava com uma cor cinzenta e um cheiro e gosto intensos. Quando foi proibida a palha este amadurecimento passou a ser feito com sal.
Há uns anos ainda comprei um que no início era saboroso mas depois começou a formar cristais de sal no exterior e deixou de se poder comer. Uma das últimas vez que fui a uma queijaria na Beira Baixa comentei este assunto com a queijeira e disse-lhe que já não valia a pena comprar queijo cabreiro. Disse-me então que ia buscar um diferente que fazia para a família. Lá comprei o queijo que era fortíssimo e do qual só se podiam comer pequenos pedaços. Quando alguém comia cá em casa oferecia um bocado do queijo e as pessoas nem sabiam como comentar. Para o fim acho que estava já putrefacto e acabei por o deitar fora porque se tinha tornado indigesto.
Depois desta descrição compreenderão o motivo deste título. O chèvre seco naturalmente soube-me ao antigo queijo cabreiro e foi uma agradável surpresa. Já está outro a secar. Vamos a ver se me saio bem desta vez, porque não sei se  o reultado foi uma questão de tempo ou de marca de queijo. Experimentem.

2 comentários:

Luis Filipe Gomes disse...

Gosto muito da Maçussa, das cabras brancas dos burros entre as cabras, dos queijos do Adolfo e do Adolfo. O vinho também é indispensável. Comecei a provar os queijos ainda na fase experimental há anos que lá não vou.
Gosto de queijo mas o difícil mesmo é acertar o pão com o queijo, e hoje em dia, acrescidamente a dificuldade de acertar com o pão.

Ana Marques Pereira disse...

Luis Filipe Gomes,
Agradeço o seu comentário. Um bom Ano.