segunda-feira, 20 de março de 2017

O mistério do Licor dos Benitinhos: resolvido.

Quando escrevi o livro «Licores de Portugal: 1880-1980» dediquei um capítulo às várias ginjinhas lisboetas e aos seus fabricantes.
Na história da Ginjinha Espinheira conhecida também por “Ginjinha do Rossio” fundada em 1840 pelo pai de Francisco Espiñeira Cousiño (de que se desconhece o nome) surgia um mistério em relação a um dos licores. O fundador foi o primeiro elemento da família a vir da Galiza para Portugal. O seu filho Francisco herdou a pequena loja ainda hoje existente e comprou a primeira fábrica de licores na rua Damasceno Monteiro. Tendo ficado à frente do negócio dos licores naturalizou-se em 1896 português.[1]
Em 1906 fez o primeiro pedido de registo de uma das suas marcas, a «Ginja Bebida Peitoral e Digestiva», bem como do «Licor de Hortelã Pimenta Superior»[2]. Foi também em 1906 que registou a marca «F. Espinheira 1º fabricante», com a foto do mesmo dentro de um círculo, a que se sobrepõe um outro círculo com idêntica imagem do Zé Povinho[3].
Em 1907 registou uma marca chamada «Licor dos Benitinhos»[4] de que nunca vi qualquer garrafa ou rótulo. Apresentava a foto de dois homens risonhos, já de idade avançada. Esta imagem não fazia qualquer sentido dentro da tipologia dos rótulos de licor da época e sobre ela escrevi: «parece só fazer sentido para quem os conhecia e não deixou história».
Há dias ao folhear a revista Branco e Negro de 1890 deparo-me com uma fotografia de A. Bobone com a legenda «Dois moços de recados». A imagem encontrava-se sob o título «Typos de Lisboa» e nada acrescentava.
Não havia dúvida eram os «Benitinhos» que deram lugar ao título do licor e que, a avaliar pelo fisionomia, deviam ser galegos. Ficou esclarecido o mistério. Eu tinha razão quando escrevi que tal imagem só faria sentido dentro de um contexto familiar que neste caso era o de umas figuras que à época deviam ser conhecidos nas ruas de Lisboa.

PS: A expressão «moços» aplicado a homens de idade já avançada não se relaciona com juventude mas com uma função ou ofício:«moço de recados».





[1] ANTT, Registo Geral de Mercês de D. Carlos I, liv. 11, fl.12v, 02/10/1896, Carta. Naturalização.
[2] BPI, 1906, nº 7, p. 270.
[3] BPI, 1906, nº 12, p.449.
[4] BPI, 1907, nº 11, p. 394.

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