sábado, 14 de maio de 2016

O moço de recados vai à mercearia chic

Este delicioso anúncio data de 1907 e publicita uma casa de géneros alimentícios, ou de víveres, como também então se dizia, situada na Rua de S. Paulo, 43-47, fazendo esquina para a Travessa dos Remolares, 50-52.

A loja ainda lá está e é desde há cerca de 3-4 anos uma loja de indianos que vende bebidas, frutas e outros produtos de consumo rápido, sobretudo à noite. Antes foi uma loja de electrodomésticos que entretanto se mudou para outro local mais pequeno, quase em frente.
Em 1945 foi uma loja de ferragens designada Rafael Lopes, Ldª, que ainda existia em 1964.

Esta mercearia já não existia em 1921 mas não consegui determinar quando terminou e que tipo de loja lhe sucedeu.
 A loja de víveres de que falamos e que tinha o nome do seu proprietário «Martins & Comandita», já existia em 1877. “Comandita” refere-se a um tipo de sociedade em que um dos sócios apenas entra com o dinheiro, o que significa que quem percebia do ramo de géneros alimentícios seria o Martins, de que desconheço outro nome. 
Encontrei um anúncio no jornal «Diário Illustrado» de 15 de Abril de 1877, ao azeite alentejano do Monte das Flores, que era vendido a 300 réis cada garrafa em vários estabelecimentos de Lisboa e entre eles encontrava-se a loja de Martins & CTA, o que a localiza no século XIX.
O diálogo entre o cozinheiro e o moço de recados é elucidativo. Tratava-se de uma casa de mercearia chic, onde eram vendidas bebidas e comidas finas, como conservas, especiarias, chás e cafés e até patés de foie gras truffés. Isto é: «cem mil iguarias». E o jovem paquete, vestido com farda a rigor e um cesto de palha bem português, concluía: «já não vou a outra casa nem que me matem».
Exageros dos publicitários que neste caso concreto usaram duas imagens, como se pode concluir pelas duas assinaturas de cada um dos lados, que juntaram e que resultou muito bem.

2 comentários:

Manuel Tomaz disse...

Recordo uma mercearia-fina que existiu na rua do Carmo, em lisboa, e que se extinguiu com o incêndio de Agosto de 1988. Tratava-se de Martins e Costa, Lda. e era um estabelecimento que tinha produtos exclusivos e que era um gosto ver as suas montras originais, num tempo em que os supermercados ainda não faziam muita concorrência.

Ana Marques Pereira disse...

Manuel Tomaz,
Era realmente uma casa de qualidade com produtos que não se encontravam em mais lado nenhum. Depois do incêndio ainda passou para a Alexandre Herculano onde esteve alguns anos, mas já não era a mesma coisa.
Cumprimentos