sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

O Hotel Astória em Coimbra

Podendo escolher opto sempre por hotéis antigos. Podem ser menos práticos, com quartos mais pequenos e menos funcionais mas quando ganharam charme com a idade são, como as pessoas, mais interessantes.
Numa ida a Coimbra foi o Hotel Astória o escolhido. Já lá tinha ficado anteriormente mas vejo agora que a última vez foi há muito tempo porque a minha memória estava já um pouco esbatida. O hotel existe desde 1925 e o edifício, projecto do arquitecto Adães Bermudes, construído entre 1915-1919,  não foi concebido inicialmente para esse fim.
Quando Alexandre de Almeida o adquiriu para hotel pediu ao arquitecto Francisco de Oliveira Ferreira que o adaptasse a essa nova função. Este espaço de tempo explica porque a sua fachada tem características Arte Nova enquanto no interior predomina a Art Deco. 
A cadeia de hotéis que Alexandre de Almeida, um homem de visão para o turismo, viria a construir incluía além deste o Palace Hotel do Bussaco, o Palace Hotel da Curia, e em Lisboa o Hotel Europa (de que já falei a propósito de uma ementa), o Hotel Metróple e o Hotel Francfort.
O Hotel Astória já viveu melhores dias. O restaurante, onde me lembro de ter jantado algumas vezes, está agora fechado. A sua beleza pode contudo apreciar-se pela manhã, uma vez que é aí que são servidos os pequeno-almoços. A sala não sofreu grandes alterações mas desapareceram os belos candeeiros de tecto Art Deco, visíveis em fotografias antigas, substituídos por candeeiros modernos.
As salas de entrada mantém a sua beleza com alguns apontamentos de época, como as pequenas secretárias onde as pessoas escreviam os seus bilhetes postais durante as viagens, ou a zona de leitura situada na mezzanine.
Precisa contudo de algum investimento. Nem precisa de obras ou de gastar muito dinheiro. O que é necessário é uma mão sensível que enriqueça os quartos com quadros Art Deco e colchas condizentes para tornar o ambiente mais quente. Que retire do armário de souvenirs a louça de Coimbra que, aposto, nenhum turista alguma vez comprou. E pouco mais será necessário para acentuar o ar de época para que os quadros com postais antigos da cadeia de hotéis nos remetem.
A experiência de subir num antigo elevador sentado no seu banco de madeira é hoje rara e recorda-me algumas lojas de Lisboa da minha infância, quando o tempo era mais lento.
O serviço é discreto mas impecável com uma disponibilidade do responsável pelo hotel nos ouvir quando o abordamos na recepção. 
Em conclusão: uma experiência positiva, mas que deixa um amargo de boca, como quando olhamos para uma pessoa bonita mas descuidada. Quando afinal é preciso tão pouco para melhorar. Foi-nos dito que aguardam obras. Não é preciso. Retomando a analogia da pessoa, um novo penteado e um baton nos lábios e a imagem modifica-se imediatamente. Alexandre de Almeida não gostaria de ver assim o seu hotel.

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