domingo, 4 de outubro de 2015

Pensamento sobre Cebolas

Um molho saloio de cebolas
Foi um presente de cebolas que recebi, vindas directamente da quinta, que me fez pensar na sua designação. De pele brilhante da cor do sol, apresentavam-se em molho e vinham amarradas pelos pés, ramas ou palhas (só às vezes nos apercebemos da riqueza da língua portuguesa). Perguntei como se chamava aquele arranjo. Não sabiam mas talvez «molho saloio». Achei bem porque são provenientes da zona de Loures, uma região que foi habitada pelos árabes expulsos da cidade de Lisboa onde se dedicaram à agricultura.
Réstias de alhos e cebolas
Sabia que não era uma «réstia», designação que deriva da corda de junco entrançado, e daí o nome ter sido adoptado para designar um conjunto de cebolas ou alhos presos pela sua rama ou palha entrelaçadas. O sábio padre Rafael Bluteau, no século XVIII, designava por «cabo» um conjunto de legumes (cebolas, alhos) entrançados que compunham a réstia. Mas estas não estavam entrançadas e muito menos entrelaçadas, não constituindo uma «trança». Que isto de entrelaçar cebolas tem a sua arte. Existiu mesmo uma actividade de enrestiar cebolas, cujos últimos artesão já quase desapareceram. Como tudo tem o seu saber que se ganha com a prática. Para se enrestiar cebolas é preciso agarrar na palha, isto é, nos caules secos e começar a fazer a réstia que deve ter 25 cebolas postas em fila, que se vão introduzindo uma por uma.
Atado de figos
Também não eram um «enfiada» uma vez que não eram passadas por um mesmo fio, o que  poderia corresponder possivelmente a um «atado», sobre o qual já falei a propósito de figos. 

A expressão «cambulha», que provém da palavra de origem árabe qambal para significar uma porção de coisas juntas, por exemplo figos, enchidos, ou mais facilmente compreensível as chaves, ligados por um fio ou argola, também não parecia aqui apropriada.

Ficamos então com o «molho saloio» e não ficamos mal.

2 comentários:

alvaro silva disse...

Também no Alto Minho se chama "cambulho" a uma dúzia de solhas (de rio) que se encontram enfiadas pelas guelras num atado vegetal, vime ou salgueiro. Também há quem lhe chame "camba" ou "cambada"Estes nomes levam-me á meninice passada sempre que possível na beira do rio Minho.Muitos e sinceros parabens pelo blog de alta qualidade e gosto.

Ana Marques Pereira disse...

Alvaro Silva,
Agradeço o seu comentário que completa o sentido do texto e as suas amáveis palavras. Cumprimentos