quarta-feira, 22 de julho de 2015

The ghosts of my friends (Os fantasmas dos meus amigos)

Este pequeno livro de folhas virgens destinava-se a receber as assinaturas dos amigos do seu dono. Mas era mais do que um livro de autógrafos. O seu interesse reside no facto da assinatura, escrita com tinta que demorava a secar, ser feita no meio de uma folha, que era depois dobrada. Criava-se assim uma imagem dupla, em espelho, com um misto de assinatura e de uma mancha que representava o espírito, ou alma, da pessoa.
O livro foi concebido por Cecil Henland, uma escritora de livros infantis, que foi também criadora de um sistema de ensino em Inglaterra, onde o livro foi publicado.  Existe contudo uma versão idêntica publicada nos Estados Unidos.
No século XIX divulgou-se um jogo chamado Klecksographie (de «Klecks» que significa mancha de tinta) em que os intervenientes desenvolviam pequenos poemas a partir de manchas abstractas de tinta.
Foi com base nestas interpretações que o psiquiatra suíço Hermann Rorschach (1884-1922) desenvolveu o teste de Rorschach, um teste do borrão de tinta, que se destinava a servir de técnica de avaliação psicológica, ideia que defendeu em tese em 1921. 
Embora no início as imagens fossem em maior número acabou por se desenvolver com dez cartões com manchas de tinta simétricas, que os doentes viam e interpretavam. Mais difícil era harmonizar o resultado das respostas.
Nada que preocupasse os possuidores do livrinho «Ghosts of my friends» mais preocupados em coligir as assinaturas de amigos e pessoas importantes e no aspecto estético da imagem do que nalguma forma de significância. A ideia difundiu-se por vários países e este foi oferecido a um António seguramente por uma inglesa a viver em Portugal chamada Edith Robinson, em 1907. 

2 comentários:

Luis Filipe Gomes disse...

Muito interessante.
Ainda me lembro de fazer o teste do "borrão de tinta". Uma patetice, um jogo de salão do séc. XIX, um anacronismo transformado em ciência avaliando e segregando pessoas.
O meu discurso amargo é só porque numa das vezes a examinadora sem argumento para a defesa daquele teste entre outros disse que o psicólogo só vê o que a "cobaia" deixa ver. Do alto do seu pequeno degrau de decisão baixou a cancela e eu fiquei à porta. Felizmente! Parte da apreciação referia que o candidato era demasiado sensível para o ambiente do posto de trabalho para o qual concorria.

Ana Marques Pereira disse...

Luís Filipe Gomes,
Ainda bem que há quem tenha estas recordações. Lembro-me que quando estudei Psicologia uma das capas do livro tinha uma destas manchas de tinta. Os mais novos não sabem do que se fala e devem achar este tema esotérico (que por acaso até é).
Cumprimentos