domingo, 7 de junho de 2015

A crise de fome em Cabo Verde em 1921

A partir de 1900 foram várias as crises de fome relacionadas com factores climatéricos e outros, que levaram à falta de trabalho e carências alimentares em Cabo Verde. As datas registadas são várias: mencionam-se as de 1900-1904, 1908, 1912-1914, 1917 e novamente em 1921.
Na realidade a partir de 1913 os Estados Unidos, para onde tinham já partido vários emigrantes, proíbiram a entrada de pessoas analfabetas e a crise agravou-se. Muitos tinham já partido para o Brasil e faziam parte do grande contingente de portugueses aí emigrados. Só entre 1901 e 1950 quase um milhão de portugueses emigraram para o Brasil.
Mindelo. Paços do Concelho. Imagem publicada em Buala
Quando em 1921 a sessão da Câmara no Mindelo é invadida pelo povo que clama fome e falta de trabalho, são feitos pedidos a Portugal. Em Diário da República de 23 de Junho de 1921, o Ministério das Colónias publica  o Decreto nº 7.608 em que atendendo à crise alimentar provocada pela escassez de produção agrícola é necessário um socorro urgente à população,  sendo concedido um crédito extraordinário de 600.000 escudos. Era quantia insuficiente uma vez que o Governador de Cabo Verde havia pedido à metrópole 3.000.000 escudos para as despesas indispensáveis.
Os emigrantes portugueses pelo Mundo cotizaram- se para ajudar. No Brasil, em 1921, o Boletim Mensal da Câmara do Rio de Janeiro dava conta das várias iniciativas a favor dos desvalidos de Cabo Verde, em que se incluíram representações no teatro da cidade, conferências com venda de documentos impressos, etc. que levaram a arrecadar um total de 42.735$90.
Foto de Amândio António Lopes, 1922
Nos Estados Unidos, em New Bedford, foi criada uma «Comissão Central de Socorros aos famintos de Cabo Verde», encabeçada por Euclides Goulart da Costa, então vice-cônsul em Nova Iorque, interessante figura da nossa diplomacia, de que voltaremos a falar. A comissão pretendia angariar fundos para adquirir víveres e enviá-los aproveitando os veleiros que navegavam entre New Bedford e os portos de S. Vicente e Praia. Assim a partir de Junho de 1921 abriram um concurso para aquisição de farinha, feijão, arroz e outros géneros que entrariam em Cabo Verde livres de direitos.
Em papel anexo Goulart da Costa escreveu. «A subscrição rendeu US$  5.163,50 com que se adquiriram cerca de 150 toneladas de farinha, milho e feijão remetidos pelo vapor S. Vicente em Setembro de 1921».
O apelo de solidariedade tinha funcionado.

Sem comentários: