sexta-feira, 6 de julho de 2012

O Cozinheiro e o Médico

Esta gravura colorida à mão é da autoria de Charles Williams e foi publicada por T. Tegg, em outubro de 1815. Este caricaturista teve uma actividade artística intensa entre 1797 e 1830 e a sua crítica social cobriu vários campos da sociedade inglesa da época. Embora algumas caricaturas tenham cariz político, e nos sejam mais difíceis de compreender, na maioria são ainda deliciosas, como outras que mostro como exemplo.
 A gravura inicial intitulada «O Amigo do Médico» mostra um médico e um cozinheiro no interior de uma cozinha e serve como crítica aos maus hábitos alimentares dos ricos.
De forma sarcástica, revela-nos o diálogo que tem lugar no interior da cozinha de uma grande casa, com uma lareira onde se encontra um caldeirão e ao lado uma fornalha onde fumegam vários pratos.
Um médico, de casaco azul, após visitar o seu doente foi cumprimentar o cozinheiro e agradecer-lhe o seu trabalho.
O cozinheiro, empunhando uma colher de pau, afirma orgulhosamente: «Como vê, cá estou a fazer os fricassés, os ragouts e os kickshaws.»
Ao que o médico, agradece: «Sim meu bom amigo, vejo que trabalha duramente. Quando venho a casa dos meus doentes ricos não deixo de cumprimentar o cozinheiro, a quem devo muito. É a sua arte de “envenamento” que permite aos médicos andarem de carruagem. Sem a vossa ajuda andávamos a pé.»
Mais ao fundo duas ajudantes de cozinha continuam o seu trabalho, uma delas colocando um espeto num leitão, sem deixarem de ouvir a conversa, o que leva uma delas a dizer para a outra:«Vamos dar-lhe um pontapé».

É interessante salientar que há aqui uma crítica a um tipo de alimentação pouco saudável, com refogados e cozinhados feitos com carne e gorduras, a que o próprio médico não diria que não, a avaliar pelo seu perfil redondo.
Os kickshaws a que se refere o cozinheiro é uma expressão usada em língua inglesa para se referir a um prato elaborado. Era usada no plural e a sua etimologia vem do francês «quelque chose», sendo já utilizada desde o século XVI. Em português diríamos «qualquer coisinha».

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