sábado, 28 de janeiro de 2012

As Queijadas de Pereira


Comi as queijadas de Pereira pela primeira vez em Coimbra, há algum tempo atrás. A história das queijadas conventuais fez-me desejar conhecer o seu lugar de produção e meti-me ao caminho.

Saindo da Figueira da Foz com as indicações tiradas do Google, depressa percebi que não me serviam para nada. Logo em Montemor-o-Velho perdi-me pela primeira vez. Depois foi andar pelas estradas que cortam os arrozais, sem qualquer placa indicativa, o que transforma uma pequena distância numa aventura. Mas Portugal é assim. Já me tinha sucedido o mesmo uma vez que tentei chegar a Verride.

Finalmente avistei Pereira. O que eu pensava ser uma pequena vila transformou-se num agregado habitacional de grandes dimensões, em que a parte antiga foi engolida pelas novas construções, perdendo-se o sentido de conjunto.
Tinha conhecimento de que já não existia o convento da Ursulinas, religiosas teriam confecionado as queijadas de Pereira. O Real Colégio Ursulino das Chagas começou em Pereira em 1748 e aí se manteve durante cerca de cem anos. Foi uma «febre epidémica»(1), relacionada com as águas estagnadas dos arrozais que levou à transferência das freiras para Coimbra, em 1848. Instaladas inicialmente no Convento de Santa Ana passaram depois para o antigo Colégio das Carmelitas Descalças, onde ficaram até 1910 (2). A educação feminina neste colégio era esmerada, sendo as educandas preparadas para serem boas mães e donas-de-casa, numa transmissão de ensinamentos de “Economia Doméstica” avant la lettre.

De entre os doces conventuais considerados especialidades de Pereira encontram-se os Papos de Anjo, as Barrigas de Freira e outros, mas foram as Queijadas que se tornaram mais famosas.
Apesar de o convento ser do século XVIII elas já eram referidas no século XVI e Josefa de Óbidos terá reproduzido a sua imagem num dos seus quadros com doces. É que estas queijadas têm um aspecto característico.
 Falei com a proprietária da «Queijadinha», Liliana Ramos, uma das pessoas que presentemente as comercializa. Iniciou a actividade da casa há cerca de 8 anos.
Até então estas eram produzidas apenas por produtoras particulares e eram desconhecidas fora de Pereira. Foi interessante observar a confecção das mesmas. Feita a massa exterior estas são recheadas com uma pasta que inclui o queijo fresco, que as caracteriza.
 É-lhe então dada a forma de uma estrela com sete bicos, graças a um utensílio próprio. Só depois estes são fechados ficando a massa exterior com sete vincos. Vão ao forno em grandes tabuleiros, invertidas, sem necessidade de qualquer forma. Depois é só comer. Fica assim preservada mais uma tradição da nossa doçaria conventual.
(1) FIGO, Armando, «Pereira do Campo reagiu à saída das Ursulinas», in Diário de Coimbra, 26 de Setembro de 1999.
(2) VAQUINHAS, Irene Maria, «O Real Colégio Ursulino das Chagas de Coimbra. Notas para a sua História». Revista Portuguesa de História, T. XXXI, Vol. 2, 1996.

5 comentários:

Carlos Caria disse...

Também eu já por lá andei perdido no meio dos arrozais, para chegar a Verride, quando da Busca do Convento de Almiara,- em ruinas e degradado -, e que dista cerca de 1 Km da estação de comboio de Verride.Igualmente pela zona temos as ruinas das Termas da Amieira lindas e dignas de registo fotografico, bem como as da Azenha e Bicanho.Local bem aprazivel, embora eu não tivesse conhecido a Pereira fica já na minha lista de visitas próximas.
Abraço amizade.
Carlos Caria

Tânia Ferreira disse...

Tão interessante encontrar aqui informação sobre as Queijadas de Pereira. Cheguei há dias de um evento em Rimini, Itália, onde levei as Queijadas de Pereira a concurso. Este, a Sigep Bread Cup, procura valorizar o saber artesanal da panificação e da pastelaria, e nós equipa portuguesa procuramos divulgar isso mesmo.
Num momento em que se vive uma grande confusão de identidade e sociedade, é sempre uma doçura ler o seu blog, porque me identifico tanto com ele, com o que escreve.
Tânia Ferreira

Ana Marques Pereira disse...

Tania Ferreira,
Obrigado pelas suas palavras e parabéns pelo seu blog que já introduzi nos meus links.
As fotos dos seus pãesinhos são de fazer crescer água na boca.
Continue com os seu entusiasmo.
Um abraço

Anónimo disse...

Apesar das queijadas de Pereira estarem agora associadas à pastelaria "Queijadinha", estas não são, nem por sombras, o melhor exemplo das queijadas de Pereira.

Na minha opinião, natural deste local e conhecedora dos sabores das várias produções que foram existindo, as queijadas da "Queijadinha" são as menos bem conseguidas!

Ana Marques Pereira disse...

Anónimo,
Em sua opinião quais são as melhores? Obrigada