quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Ameixas de Elvas, um doce tradicional - 1


Tudo começou com uma caixa de Ameixas de Elvas que me ofereceram.
Gosto imenso desta fruta em conserva doce, não só para acompanhar a Sercaia ou Sericá, mas também para acompanhar carne assada.
Foi agradável, porque nem sempre é fácil encontrá-la no mercado.

Olhei para a caixa de cartão e a primeira ideia que me veio à cabeça foi como o tempo, às vezes, piora o aspecto das coisas.
A caixa apresentava-se envolvida em papel transparente, amarelo, a fazer lembrar as antigas caixas de madeira. Fiquei contente de ter uma destas, porque não tenho a certeza de ser ainda produzida.
E mais contente fiquei ainda ao pensar como fiz bem em ir juntando antigas caixas de Ameixas de Elvas, agora desaparecidas, e que mostrarei proximamente.
A “Ameixa d’ Elvas” é hoje uma produto com Denominação de Origem Protegida (DOP). O fruto utilizado é a Prunnus domestica L. ssp Domestica, da variedade “Rainha Cláudia Verde”.

Comercialmente pode apresentar-se sob a forma de:
- Ameixas frescas
- Passas - ameixa seca
- Confitadas (escorrida, em calda ou com cobertura) - ameixa transformada segundo métodos tradicionais e é sobre estas últimas que estamos a falar

Do ponto de vista histórico, a Ameixa d´Elvas, conhecida na região como abrunho, terá tido origem em França. O nome de Rainha Cláudia (1499-1524), foi-lhe dado em honra da filha de Ana da Bretanha e de Luís XII, a Duquesa da Britânia, que se tornou na primeira mulher do rei Francisco I de França.

A receita das Ameixas de Conserva fazia parte do receituário do Convento de Nossa Senhora da Consolação ou das Dominicanas, em Elvas. Fundado em 1528 foi extinguido em 1861.

Nos “Annaes de Elvas”, no capítulo XXIX, dedicado à «Industria» e reproduzido no blog de Jacinto César "Histórias de Elvas" , podia-se ler a seguinte afirmação sobre o estado da fabricação de doces, em Julho de 1852:
«Não é para esquecer, nem para desprezar este ramo da industria que aqui se exerce para nome do lugar, proveito e glória das industrias em doces principalmente no chamado toucinho do céu, e ameixa d'abrunho de frança e guadalupe. Era nos conventos das freiras de S. Domingos ou de Santa Clara, aonde isto se fazia com mais esmero; mas com o acreditado estabelecimento de Sr. José da Conceição Guerra, com fabrica de doces e licores ao arco de Santa Maria, tem afrouxado a fama do que se fazia nos conventos...».

As frases em negrito são da minha autoria e destinam-se a chamar à atenção para a passagem de testemunho dos conventos para a industria privada, na confecção destes doces.

É sobre esta empresa e outras, que se lhe seguiram, que falaremos em breve.

1 comentário:

T disse...

Tenho uma caixa tia avó da sua:)
Fotografei:)