sábado, 7 de março de 2009

O Museu Nacional de História Americana em Whashington

Estive em Washington durante uns dias. Já conhecia relativamente bem a cidade, uma vez que há alguns anos atrás tivera a possibilidade de aí passar dois períodos de férias em casa de uma amiga.

É uma das cidades americanas mais agradáveis para visitar. Passear a pé em Georgetown é um prazer. Ver as casas antigas de diferentes cores e as lojas sofisticadas, reparar em pequenos pormenores e fazer descobertas interessantes, é um bom programa.
A minha foto do painel de Marc Chagall

Desta vez descobrimos um painel de Marc Chagall numa parede do quintal de uma pequena vivenda. Apesar de chuva e da neve que caía, não desistimos de caminhar a pé na descoberta do painel. Passamos pela casa sem dar por isso. Foi preciso voltar atrás e procurar o número da porta. A razão deve-se à localização do painel de mosaicos, numa parede do jardim, protegido por um muro e parcialmente coberto por magnólias.

Empoleirámo-nos em cima de uma grade de ferro para o ver e fotografar mas, apesar dos esforços, apenas conseguíamos ver algumas porções do mesmo. A beleza do que nos foi dado observar compensou o nosso esforço.
A outra fotografia que apresento foi tirada de uma notícia do jornal “The Washington Post” e nela podemos ver parte do painel onde estão representadas figuras da mitologia grega, Orfeu na sua luta e Pégaso e em baixo refugiados europeus a atravessar o oceano, numa alusão ao próprio trajecto de Chagall, ao fugir do nazismo.
À frente do painel encontra-se a proprietária, que juntamente com o seu marido, com quem casou em 1964, foram amigos pessoais de Chagall, que lhes ofereceu o painel.

Outro dos atractivos de Washington é o conjunto de museus que fazem parte do Smithsonian Institute. São todos de uma qualidade extraordinária e têm o agradável atributo de ser grátis. Além disso, como em todos os museus americanos, é permitido tirar fotos, desde que não se use flash.

De entre eles saliento o National Museum of American History. A primeira vez que o visitei fiquei estupefacta porque era diferente de todos os outros museus. Apesar de ter uma secção destinada à história dos presidentes americanos, na sua globalidade predominava a história do quotidiano. As invenções americanas, os símbolos e as marcas americanas tinham aí um papel importante. Objectos como as garrafas iniciais de Coca Cola, o sofá de Archie Bunker da série “Tudo em família”, um sucesso nos anos 70, os sapatos encarnados de Judy Garland, a cartola de Abraham Lincoln, entre outros, transportavam-nos para uma história do quotidiano que era muito interessante e rara.
Voltei lá para rever o museu e constatei uma mudança radical. O museu foi renovado, o espaço foi modernizado e todo o conceito inicial foi alterado. Em vão procurei na planta o local dos objectos que me haviam fascinado. Julguei ter-me enganado. O novo conceito do museu transporta-nos agora para uma história oficial, politicamente correcta. Lá continuam os presidentes e sua mulheres, mas agora os departamentos estão orientados para as origens da nação, como os escravos e os judeus, para os heróis da guerra (passei essa parte), para os negros etc. Persiste uma secção sobre a origem da electricidade, onde me deliciei com a presença de modelos iniciais de torradeiras, mas os restantes objectos do quotidiano desapareceram. Do impressionante espólio do museu, apenas se podem observar algumas peças apresentadas em vitrinas, de cada um dos lados dos halls de entrada. Têm agora um aspecto mais decorativo do que didáctico.
A nova visão do que deve ser colocado em exposição pode ser muito educacional para jovens americanos, mas é extremamente desinteressante para estrangeiros. Para usar uma expressão inglesa: “boring”. Ou em bom português: chato.
Penso que se deve incluir esta visão no momento de crise que aconselha a fomentação do nacionalismo. Expressões como afro-americano e índio-americano fazem parte dessa necessidade de englobar todos no mesmo espírito.
Mas uma surpresa me aguardava. A exposição da cozinha de Julia Child, que nada tem a ver com o presente espaço e que se integrava muito bem no conceito anterior do museu.
É sobre ela que falarei mais em pormenor.

3 comentários:

Anónimo disse...

só uma pequena "remarque": os sapatos encarnados da Judy Garland não eram americanos mas sim um modelo desenhado pelo italiano Salvatore Ferragamo. Penso eu de que.
Isabel Kiki

Ana Marques Pereira disse...

Pensas mal. Os sapatos usados por Judy Garland no filme "A Feiticeira de Oz", em 1939, eram na realidade prateados e foram feitos pela "Innes Shoes Company" de Los Angeles. Na verdade existiram vários sapatos, o que explica que hoje estes persistam em várias colecções. Foi a passagem do filme a Technicolor que obrigou à mudança da cor para encarnados. Talvez a tua confusão venha do facto de, na semana da moda de New York, de 2008, ter sido feita a proposta de recriação dos famosos sapatos a vários criadores.

Anónimo disse...

Fala quem sabe. Está-se sempre a aprender neste blogue. Registo.
Isabel Kiki